A divulgação dos resultados de pesquisa constitui um dos
deveres do pesquisador que pode se valer de várias formas para
sua disseminação, como a publicação em periódicos científicos,
blogs, páginas eletrônicas de website institucional, mídias convencionais e digitais (Facebook, Instagram, Twitter), e-books, livros,
entre outros formatos. No entanto, a publicação de artigos em
periódicos científicos revisados por pares continua sendo o principal meio de divulgação reconhecido pela academia, sociedade,
bem como instituições de fomento, sendo indicadores utilizados
em ranqueamentos nacionais e internacionais de produção científica e inovação tecnológica.
Diante do constante avanço das tecnologias da informação
empregadas na comunicação e divulgação do conhecimento,
demandas relacionadas à gestão e editoração de periódicos científicos que permitem o avanço e a modernização do sistema de
publicação são apresentadas às revistas que buscam adequá-los
às suas políticas editoriais. Do mesmo modo, tais mudanças
afetam o modus operandi dos autores e dos especialistas que emitem pareceres, podendo enfrentar desafios em dominar os novos
conceitos e ferramentas complexas com as quais nem sempre
possuem familiaridade.
Este processo constante de mudanças ainda acontece em um
ambiente de pressão sobre os pesquisadores para a obtenção de
altos índices de produtividade e uma hipercompetição por fundos de pesquisa, o que pode incorrer no comprometimento do
progresso científico e aumento de ações antiéticas, devido à relativização da integridade no desenvolvimento e comunicação da
pesquisa cientifica. A consolidação de periódicos predatórios,
o fatiamento de publicações (salami science), além de ações
antiéticas que ferem a integridade do processo, como o plágio,
estão entre as práticas reconhecidas internacionalmente que
causam desconfiança na credibilidade dos cientistas e no sistema editorial e colocam em risco a confiabilidade do método
científico e da ciência como um todo.
Nesse cenário de mudanças na gestão da editoração cientifica
e de pressão aos autores para se adaptar a tais mudanças, instituições de pesquisa e agências de fomento em todo o mundo vêm
incentivando a criação de diretrizes do que se denominou “boas
práticas em pesquisa”: critérios básicos que buscam promover e manter padrões éticos e de qualidade para a realização,
avaliação e divulgação de pesquisas que garantam o bom exercício da prática científica. No entanto, são necessários estudos
que demonstrem como está o conhecimento dos pesquisadores
nas diferentes áreas sobre esses “novos processos e tendências”,
especialmente devido à inexistência de modelos sistemáticos
de avaliação que norteiem o atendimento a preceitos de boas
práticas científicas, além da considerável escassez de estudos na
literatura mundial sobre esse tema.
Especificamente no que concerne a enfermagem, investigações sobre o conhecimento em temas relacionados a boas práticas em pesquisa e editoração científica são necessários.
A enfermagem é uma área produtiva mundialmente; logo, ter
um conhecimento correto e atualizado de conceitos, tendências
e processos relacionados à gestão em editoração científica colabora com a manutenção da integridade científica, uma vez que
fornece aos autores arcabouço teórico para, não apenas evitar
as más práticas científicas, como também promover, conduzir
equipes e aplicar as boas práticas em publicação.
Diante deste contexto, um estudo buscou responder a seguinte questão: levando em consideração as interseções entre os novos
processos e tendências em editoração científica e a necessidade
de praticar e promover boas práticas em pesquisa, qual o conhecimento dos pesquisadores-enfermeiros brasileiros sobre esses
temas e suas implicações? Baseado nisto, o mesmo objetivou verificar o conhecimento de enfermeiros-pesquisadores sobre
tendências em editoração científica e boas práticas em pesquisa.
Tendo como resultados principais:
O estudo apontou que pesquisadores-enfermeiros, independente
do nível de formação (mestrado ou doutorado), apresentaram baixo conhecimento
em questões sobre o reconhecimento e utilização de informações sobre boas
práticas em pesquisa e editoração científica. E também que há necessidade de
estratégias que identifiquem fragilidades, fortaleçam as lacunas e ampliem o
conhecimento, permitindo o enriquecimento da formação científica dos
enfermeiros-pesquisadores em temas relacionados a boas práticas em pesquisa e
editoração cientifica, para qualificar a produção da enfermagem.
Fonte: SOUSA, A. F. L; et al. Trends in scientific editing and good research practices: what do researchers-nurses
know? Rev Esc Enferm USP. v. 56, e20210393, 2022.
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