DESTAQUE

Publicação de estudos científicos

Caros leitores, A Journal Health NPEPS (ISSN 2526-1010) é uma revista científica produzida pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNE...

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Tendências em editoração científica e boas práticas em pesquisa: o que conhecem os pesquisadores-enfermeiros?

 A divulgação dos resultados de pesquisa constitui um dos deveres do pesquisador que pode se valer de várias formas para sua disseminação, como a publicação em periódicos científicos, blogs, páginas eletrônicas de website institucional, mídias convencionais e digitais (Facebook, Instagram, Twitter), e-books, livros, entre outros formatos. No entanto, a publicação de artigos em periódicos científicos revisados por pares continua sendo o principal meio de divulgação reconhecido pela academia, sociedade, bem como instituições de fomento, sendo indicadores utilizados em ranqueamentos nacionais e internacionais de produção científica e inovação tecnológica. 

Diante do constante avanço das tecnologias da informação empregadas na comunicação e divulgação do conhecimento, demandas relacionadas à gestão e editoração de periódicos científicos que permitem o avanço e a modernização do sistema de publicação são apresentadas às revistas que buscam adequá-los às suas políticas editoriais. Do mesmo modo, tais mudanças afetam o modus operandi dos autores e dos especialistas que emitem pareceres, podendo enfrentar desafios em dominar os novos conceitos e ferramentas complexas com as quais nem sempre possuem familiaridade. 

Este processo constante de mudanças ainda acontece em um ambiente de pressão sobre os pesquisadores para a obtenção de altos índices de produtividade e uma hipercompetição por fundos de pesquisa, o que pode incorrer no comprometimento do progresso científico e aumento de ações antiéticas, devido à relativização da integridade no desenvolvimento e comunicação da pesquisa cientifica. A consolidação de periódicos predatórios, o fatiamento de publicações (salami science), além de ações antiéticas que ferem a integridade do processo, como o plágio, estão entre as práticas reconhecidas internacionalmente que causam desconfiança na credibilidade dos cientistas e no sistema editorial e colocam em risco a confiabilidade do método científico e da ciência como um todo.

 Nesse cenário de mudanças na gestão da editoração cientifica e de pressão aos autores para se adaptar a tais mudanças, instituições de pesquisa e agências de fomento em todo o mundo vêm incentivando a criação de diretrizes do que se denominou “boas práticas em pesquisa”: critérios básicos que buscam promover e manter padrões éticos e de qualidade para a realização, avaliação e divulgação de pesquisas que garantam o bom exercício da prática científica. No entanto, são necessários estudos que demonstrem como está o conhecimento dos pesquisadores nas diferentes áreas sobre esses “novos processos e tendências”, especialmente devido à inexistência de modelos sistemáticos de avaliação que norteiem o atendimento a preceitos de boas práticas científicas, além da considerável escassez de estudos na literatura mundial sobre esse tema. 

Especificamente no que concerne a enfermagem, investigações sobre o conhecimento em temas relacionados a boas práticas em pesquisa e editoração científica são necessários. A enfermagem é uma área produtiva mundialmente; logo, ter um conhecimento correto e atualizado de conceitos, tendências e processos relacionados à gestão em editoração científica colabora com a manutenção da integridade científica, uma vez que fornece aos autores arcabouço teórico para, não apenas evitar as más práticas científicas, como também promover, conduzir equipes e aplicar as boas práticas em publicação.

Diante deste contexto, um estudo buscou responder a seguinte questão: levando em consideração as interseções entre os novos processos e tendências em editoração científica e a necessidade de praticar e promover boas práticas em pesquisa, qual o conhecimento dos pesquisadores-enfermeiros brasileiros sobre esses temas e suas implicações? Baseado nisto, o mesmo objetivou verificar o conhecimento de enfermeiros-pesquisadores sobre tendências em editoração científica e boas práticas em pesquisa.

Tendo como resultados principais:




O estudo apontou que pesquisadores-enfermeiros, independente do nível de formação (mestrado ou doutorado), apresentaram baixo conhecimento em questões sobre o reconhecimento e utilização de informações sobre boas práticas em pesquisa e editoração científica. E também que há necessidade de estratégias que identifiquem fragilidades, fortaleçam as lacunas e ampliem o conhecimento, permitindo o enriquecimento da formação científica dos enfermeiros-pesquisadores em temas relacionados a boas práticas em pesquisa e editoração cientifica, para qualificar a produção da enfermagem.








Fonte: SOUSA, A. F. L; et al. Trends in scientific editing and good research practices: what do researchers-nurses know? Rev Esc Enferm USP. v. 56, e20210393, 2022. 




quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Devemos reconhecer as limitações dos estudos em revistas científicas?



O avanço do conhecimento científico é muito limitado. Os pesquisadores estão cientes disso. No entanto, é mais comum que reconheçam as limitações de suas pesquisas em artigos empíricos publicados em revistas científicas em inglês do que em espanhol.


O lento avanço do conhecimento científico

A investigação científica é como uma grande missão em que os investigadores procuram compreender melhor o nosso mundo e resolver os problemas que nos preocupam. Para isso, eles realizam estudos baseados em evidências empíricas. No entanto, seu progresso é muito lento. Uma das razões é que seus estudos são tão concretos que só conseguem dar passos tímidos para além das fronteiras do conhecimento. Desta forma, é difícil que qualquer estudo seja perfeito ou completo.

Quais são as limitações?

Os cientistas sabem que o valor de suas descobertas é limitado por duas razões principais:

  1. Porque em seus experimentos muitas vezes é difícil criar as condições ideais que lhes permitam ter certeza sobre o efeito do que investigam.

    Vamos imaginar que você queira saber qual dos dois métodos de ensino de inglês é mais eficaz. Para isso, eles criam dois grupos de crianças que são semelhantes em tudo, exceto no método de ensino que recebem, e percebem que em um dos grupos as crianças aprendem mais. Dessa forma, eles descobrem qual dos dois métodos foi mais eficaz.

    No entanto, se as aulas tivessem sido ministradas por um professor diferente em cada grupo, seria difícil saber se as crianças de um dos dois grupos aprenderam mais com o método ou com o professor. Nesse caso, o professor teria sido um fator descontrolado que “limitava” o valor da descoberta.

  2. Porque eles conduzem seus experimentos sob condições muito específicas e não podem presumir que encontrarão a mesma coisa se as condições mudarem.

    Por exemplo, mesmo que o método de ensino de inglês acima funcione bem com o tipo de crianças estudadas, não se pode presumir que funcionaria tão bem com outros grupos, como adolescentes ou adultos. Neste caso, o valor do achado estaria “limitado” a este tipo de crianças e não deveria ser generalizado para outros grupos.

Por esses motivos, quando os autores de artigos de pesquisa publicam suas descobertas em revistas científicas, geralmente reconhecem as limitações de seu estudo nas seções finais.

É aqui que escrevem frases como “a amostra pode ter sido heterogênea”, para alertar o leitor de algum fator não controlado que poderia explicar os resultados, ou “este estudo é restrito a… (certas condições)”, para alertar o leitor que aquelas Os resultados não devem ser generalizados para diferentes condições.

Diferenças entre revistas em inglês e espanhol

Embora possa não parecer, o reconhecimento de limitações tem uma função retórica. Ou seja, serve para que os autores convençam melhor o leitor do grande valor de sua contribuição e, assim, tenham mais opções de publicação.

De fato, estudos anteriores de retórica intercultural mostraram que é mais comum que os autores reconheçam mais limitações em artigos publicados em revistas científicas em inglês, que tendem a ser mais exigentes, do que em outros idiomas, como o espanhol.

Comparando as limitações reconhecidas em artigos de revistas científicas em inglês e espanhol, em uma investigação recente confirmei essas diferenças em ciências sociais como sociologia, psicologia e pedagogia, embora não em economia e negócios.

Por meio de entrevistas com os autores, percebi que o papel das limitações é geralmente entendido de forma diferente nas duas culturas de escrita. Enquanto em periódicos espanhóis os cientistas os mencionam para justificar suas recomendações para pesquisas futuras, em inglês o fazem para mostrar sua competência e antecipar possíveis críticas.

Também descobri que as razões para os autores não reconhecerem mais limitações são diferentes. A principal preocupação de quem publica em espanhol costuma ser o público, pois acredita que não entenderia as complexidades de seu estudo; mas também se lembram de não atirar pedras contra o próprio telhado, admitindo mais pontos fracos.

Por sua vez, os autores em inglês não reconhecem mais limitações por questões de composição do texto, como já tê-los mencionado em outra seção ou não ter mais espaço. O que fica claro é que eles entendem que admitir limitações aumenta sua credibilidade.

Qual é a utilidade de saber isso?

Quando alguém lê um artigo publicado em uma revista científica espanhola, deve fazer um esforço para detectar as limitações que os autores podem não ter reconhecido, para interpretar corretamente os achados.

E, se você é espanhol e pretende publicar sua pesquisa em uma revista científica em inglês, talvez queira reconhecer mais algumas limitações do que em uma revista espanhola, para aumentar sua credibilidade e suas chances de sucesso.


Fonte: Ana I. Moreno (Professora de Filologia Inglesa, Universidade de León) em The Conversation.

terça-feira, 24 de maio de 2022

Uso da IVERMECTINA contra o COVID: reflexo da pseudociência

 



O nome desta droga rodou em diversos grupos e conversas de WhatsApp e Telegram, mas não somente ali. Prescrições e mesmo a automedicação com ivermectina se multiplicaram durante a pandemia, e ainda há quem defenda seus efeitos na covid com unhas e dentes – ainda que a boa ciência já tenha demonstrado o contrário. Ao investigar a origem de toda esta fama, inclusive argumentando com seus defensores, somos inundados com links para “estudos” e periódicos que, para quem não tem intimidade com os meandros da pesquisa e publicação científica, passam facilmente como provas da eficiência da droga.

Essa reportagem vai abordar mais a fundo dois deles: o site ivmmeta.com e um artigo publicado na revista Cureus. O primeiro caso é mais gritante: o site é anônimo, não faz parte de nenhum periódico científico, além de violar as regras mais básicas da metodologia científica – inclusive com distorção estatística grotesca para quem entende um pouco do assunto. A conclusão forjada, mas propagada inclusive por médicos em vídeos na internet, é de que a chance da ivermectina não funcionar contra a covid é de 1 em 1 trilhão.

Já o segundo caso envolve artigo publicado em uma revista que vem sendo fortemente questionada pelo processo de revisão frágil: os próprios autores indicam os revisores, e o tempo de revisão de poucos dias foge totalmente ao que é considerado por especialistas o mínimo necessário para fazer uma verificação atenta. Os autores também ocultaram conflitos de interesse, como trabalhar para o laboratório que produz ivermectina no Brasil. Mais que a falta de credibilidade, há uma série de inconsistências graves no próprio artigo – e nos dados, como paciente com 119 anos e outro que consta como tendo tomado 6 mil comprimidos da droga – que, mais uma vez, levam ao resultado favorável para a ivermectina na covid, ao contrário do que estudos sérios apontaram.

Saiba como funciona o sistema de publicações científicas na área médica e por que estudos desacreditados sobre a ivermectina continuam servindo de justificativa para uso da droga na covid:

REVISÃO POR PARES
E por que elas são tão importantes? “O processo científico precisa de organização, protocolo. É só a partir do registro que é possível reproduzir uma pesquisa e confirmar aquela informação, por exemplo. As publicações, por sua vez, geram outras perguntas e novas pesquisas. Os estudos e seus resultados precisam ser públicos”, explica Bruno Caramelli, médico cardiologista e professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
Depois, é preciso verificar se o estudo foi duplo cego, quando nem a pessoa que recebeu a intervenção, nem quem a avalia sabem se ela recebeu o medicamento ou o placebo. O cegamento serve para evitar ou diminuir a atribuição de resultados a uma droga, quando eles se devem, na verdade, ao efeito placebo, ou a um enviesamento de quem avalia. “O método científico é feito para nos proteger de nós mesmos, porque nós queremos que o resultado seja bom. Então você dá ivermectina para os seus pacientes no consultório, e eles ficam bons. Mas como você sabe que eles não ficariam bem se você não tivesse dado absolutamente nada para eles?”, complementa Tessler.
Um bom estudo que avalia tratamentos médicos em seres humanos, o ensaio clínico, no jargão da ciência, também deve ser randomizado no momento de incluir os participantes em cada um dos “braços”. Ou seja, os pacientes são colocados em um dos dois grupos de forma aleatória, sem escolha prévia, para que tanto o grupo que recebeu o tratamento quanto o que recebeu placebo tenham características semelhantes: idade, sexo, condições prévias de saúde, sociais, entre outras.
A revisão é dita por pares porque é feita por especialistas, assim como o autor da pesquisa, para conferir, dentro do texto, se há algum erro metodológico. “O papel da revisão é garantir que a produção científica tenha qualidade”, diz Caramelli.

A pandemia potencializou um problema com que a ciência se depara há alguns anos, principalmente após a popularização da internet. Se, por um lado, a multiplicação de periódicos representou algum avanço na democratização do acesso e divulgação do conhecimento científico, por outro, deu origem a uma série de publicações científicas (ou com cara de científicas) de baixíssima qualidade e alta tolerância para artigos metodologicamente ruins, quando não escritos a partir de dados fraudados. É neste tipo de revista que se insere a totalidade dos estudos que expõem como conclusão a eficácia da ivermectina contra a covid.


QUALIDADE

Quase nenhum fator que vamos elencar aqui, isolado, é garantia da qualidade de uma produção científica. Mas todos se complementam, e o primeiro indício é a qualidade do periódico onde a pesquisa foi publicada. Existem revistas predatórias, que têm uma revisão por pares fraca ou até mesmo inexistente, estando interessadas apenas em receber o valor que o autor paga para publicar ali. “Esse problema é anterior à pandemia, e uma das coisas que o explicam é a pressão, na carreira acadêmica, para que o cientista publique artigos. Ele depende de um volume de publicações para progredir e ter financiamento”, explica Ana Carolina Peçanha.


IMPACTO

fator de impacto de uma revista diz quantas vezes, em média, um artigo publicado nela é citado em outros artigos. Ele é mais um indício da qualidade da revista. A mais famosa da área médica, o New England Jornal of Medicine, por exemplo, tem o mais alto fator de impacto entre todas as revistas científicas, maior que 90.

Ana Carolina Peçanha diz também que as revistas menos importantes ganharam algum empoderamento na crise da covid, e até aumentaram seu fator de impacto. “A própria revista tem interesse em publicar artigos com resultados extraordinários, que sejam polêmicos, mesmo que gerem críticas, pois geram citações”, afirma a pesquisadora.

Por fim, Alencar Neto destaca que os estudos têm objetivos diferentes, e por isso nem sempre um bom estudo estará nas maiores revistas. Mas se o artigo está num bom periódico, certamente tem mais chance de ser confiável.


QUESTÕES DE MÉTODO

Depois, é preciso verificar se o estudo foi duplo cego, quando nem a pessoa que recebeu a intervenção, nem quem a avalia sabem se ela recebeu o medicamento ou o placebo. O cegamento serve para evitar ou diminuir a atribuição de resultados a uma droga, quando eles se devem, na verdade, ao efeito placebo, ou a um enviesamento de quem avalia. “O método científico é feito para nos proteger de nós mesmos, porque nós queremos que o resultado seja bom. Então você dá ivermectina para os seus pacientes no consultório, e eles ficam bons. Mas como você sabe que eles não ficariam bem se você não tivesse dado absolutamente nada para eles?”, complementa Tessler.

Um bom estudo que avalia tratamentos médicos em seres humanos, o ensaio clínico, no jargão da ciência, também deve ser randomizado no momento de incluir os participantes em cada um dos “braços”. Ou seja, os pacientes são colocados em um dos dois grupos de forma aleatória, sem escolha prévia, para que tanto o grupo que recebeu o tratamento quanto o que recebeu placebo tenham características semelhantes: idade, sexo, condições prévias de saúde, sociais, entre outras.




quinta-feira, 19 de maio de 2022

Regra editorial: é apropriado não citar artigos com mais de cinco anos?

A pesquisa publicada em periódicos científicos é baseada em conhecimento prévio, representado nas referências bibliográficas que os autores apresentam em seus artigos. Toda pesquisa parte de uma busca adequada de informações utilizando uma metodologia rigorosa e de relevância no estudo. As referências são associações de conceitos com as ideias científicas que estão sendo trabalhadas na pesquisa e atualmente constituem uma medida da qualidade e relevância da pesquisa. Observa-se que os periódicos científicos muitas vezes estabelecem uma norma sobre referências bibliográficas em que se solicita que 'artigos não devem ter mais de cinco anos', e livros, 'não mais de dez anos'. Existe um padrão validado que suporta essa regra?

As citações, nas quais um artigo se refere a um trabalho anterior, são um meio padrão pelo qual os autores reconhecem a fonte de seus métodos, ideias e descobertas e são frequentemente usadas como uma medida aproximada da importância de um artigo. Cinquenta anos atrás, Eugene Garfield publicou o Science Citation Index (SCI), o primeiro esforço sistemático para rastrear citações na literatura científica.

Em um artigo revisando os 100 artigos mais citados até 2014, um publicado em 1951, ' Medição de proteína com reagente de folina ' (http://www.jbc.org/content/ ) ficou em primeiro lugar. Segundo lugar: ano de 1970, citado 213.005 vezes, ' Clivagem de proteínas estruturais durante a montagem da cabeça do bacteriófago T4 ' (https://www.nature.com/articles/227680a0). Terceiro lugar: ano de 1976, citado 155.530 vezes, ' Um método rápido e sensível para a quantificação de quantidades de microgramas de proteína utilizando o princípio de ligação proteína-corante' (https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/0003269776905273). Esses artigos são citados até os dias atuais.

Nenhum desses trabalhos poderia ter sido citado em trabalhos de pesquisa hoje de acordo com as regras de alguns periódicos de pesquisa. Se você notar, na lista dos mais citados, o mais antigo é de 1925 (citado 220.690 vezes), e o mais novo é de 2008 (37.978 vezes), e continuam citados. De acordo com o Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, os autores devem fornecer referências diretas e relevantes à fonte original sempre que possível.

Na minha opinião, não há prazo de validade para um trabalho. No entanto, enquanto alguém pode olhar para o conteúdo científico e achar que está desatualizado, outro cientista pode ler nas entrelinhas e encontrar uma ótima ideia que poderia vir desse artigo. Acho que todos concordamos que muitos desenvolvimentos na ciência vêm da transferência de conhecimento antigo adquirido em um novo campo para outro campo. Uma boa regra é usar fontes bibliográficas dos últimos dez anos para pesquisa em ciências sociais. Para campos de ritmo mais acelerado, as fontes publicadas nos últimos 2-3 anos são um bom ponto de referência, pois são mais atuais e refletem as descobertas, teorias, processos ou melhores práticas mais recentes.




Fonte:

IGLESIAS-OSORES, S. Norma editorial: ¿es adecuado no citar los artículos de más de cinco años de antigüedad?. 

Clique aqui para conferir: Scielo.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Morte de revista acadêmica muito exagerada, diz presidente da ERC

 


Plataformas de acesso aberto não substituem periódicos revisados ​​por pares, diz Maria Leptin


A publicação em periódicos altamente seletivos continuará sendo importante para os cientistas no futuro, porque os acadêmicos sempre reconhecerão o valor agregado dos pesquisadores nesse tipo de publicação, disse o novo presidente do Conselho Europeu de Pesquisa.

Descartando as previsões de que os editores acadêmicos tradicionais não serão necessários no futuro próximo, à medida que a popularidade dos preprints e outras plataformas de acesso aberto cresce, Maria Leptin disse que não imaginava um mundo sem periódicos.

Mesmo nas próximas décadas, os pesquisadores "continuarão a enviar artigos para revisão por pares da mesma maneira que fazem agora", disse o professor Leptin, que assumiu o financiamento de pesquisas da União Europeia em novembro, depois de ter sido diretor do European Molecular Biology Organização (EMBO), que publica um número seleto de revistas, desde 2010.

Sobre o possível abandono da revisão por pares baseada em periódicos, que alguns previram, o professor Leptin acrescentou: "Os comentários pós-publicação, os crachás e tudo isso... eu não vejo, porque o trabalho que os especialistas dos árbitros fazem ao revisar os artigos melhora-os e já é algo que usamos para julgar os artigos".

Seus comentários aparecem em um novo livro, Plan S for Shock, escrito por Robert-Jan Smits, que supervisionou a criação da iniciativa de acesso aberto Plan S enquanto um alto funcionário da Comissão Europeia, e a jornalista Rachael Pells, que relata o desenvolvimento da iniciativa e seu eventual lançamento em janeiro de 2021 (possível lançamento em janeiro de 2021).

Os principais defensores do acesso aberto entrevistados para o livro insistiram que os periódicos se tornarão - e talvez já sejam - obsoletos.
"Não precisamos de periódicos", disse Robert Kiley, ex-chefe de acesso aberto do Wellcome Trust e atual estrategista-chefe da Plan S. Ele disse que um "repositório completamente aberto onde os pesquisadores podem enviar suas pesquisas quando se sentirem prontos para como qualquer servidor de pré-impressão" seria um modelo mais eficiente, ao qual os revisores poderiam adicionar seus comentários.

Mas o professor Leptin observou que uma pesquisa com membros do EMBO em 2019 sugeriu que havia pouco apetite por esse tipo de modelo. Quando questionados sobre como selecionariam artigos fora de sua área, eles optaram por artigos "de alguém que conhecem ou ouviram falar, um nome muito conhecido na ciência - ou vão para uma revista muito seletiva", disse o professor Leptin, que ele argumentou que os cientistas "precisam de algum tipo de bandeira 'começar aqui'" ao realizar pesquisas.

Para Jasmin Lange, diretora da Brill, editora sediada na Holanda com quase 300 revistas, as revistas serão mais importantes do que nunca como fontes confiáveis ​​no "enorme transbordamento de informações" da Internet.

"O que uma revista faz é construir uma comunidade", disse ele, acrescentando que os títulos eram uma "plataforma de discussão que nós, como editor, criamos com editores e onde trabalhamos continuamente para melhorar procurando novos autores e também novos leitores ". A comunidade "não será drasticamente separada dos modelos de periódicos existentes, porque estamos falando de comunidades muito especializadas que publicam com periódicos da sociedade, subcampos de subcampos", explicou.

Smits, que agora é presidente da Universidade de Tecnologia de Eindhoven, disse ao Times Higher Education que acredita que "o papel da revista diminuiria".

"É uma questão geracional", disse ele. "A idade média dos professores na Europa é de cerca de 54 anos, e eles ainda estarão por aí por mais 10 anos, mas a próxima geração já está compartilhando suas descobertas de uma maneira muito diferente: não é tanto em torno de periódicos", disse ele.




segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Covid-19 e a ética das publicações científicas



Os preceitos do método científico estabelecem que toda pesquisa rigorosa deve começar com a formulação de uma hipótese, com base nas informações disponíveis sobre o assunto em questão, juntamente com o conhecimento e a experiência do pesquisador. Em seguida, essa hipótese precisa ser apoiada por observações precisas e pela realização do trabalho experimental essencial que apoia sua validade. Somente o acúmulo de dados favoráveis ​​e inequívocos garantiria sua publicação, geralmente por meio de monografias especializadas, artigos científicos populares ou artigos .

Portanto, a publicação de resultados consistentes culminaria em uma etapa do longo processo de pesquisa. Cabe então à própria comunidade científica submeter essa hipótese a uma crítica exaustiva para refutá-la ou confirmar sua veracidade, fortalecendo-a com novos princípios que permitam postular uma teoria coerente. Pouquíssimas teorias chegam à categoria de leis dotadas de significado universal, dando crédito à genialidade de seus autores.

No entanto, nas últimas décadas, a pesquisa tornou-se uma tarefa exigente e competitiva , colocando grupos consolidados uns contra os outros para serem os primeiros a ter sucesso, principalmente em áreas de ponta e prioritárias. Governos, instituições públicas e fundações estabeleceram um conjunto de critérios, teoricamente objetivos mas restritivos, para selecionar os –supostos– melhores e mais capazes candidatos, cujas pesquisas serão financiadas, em detrimento de tantos cientistas medíocres, condenados ao ostracismo.

O número e a qualidade das publicações representam o sancta santorum de qualquer pesquisa atual , preceito que pode ser quantificado através de vários parâmetros: principais periódicos , fator de impacto, índice h, citações, decis etc., que geram um resultado matemático, traduzível como triunfo ou fracasso.

Consequentemente, inúmeros pesquisadores lançaram uma corrida obsessiva e imparável, buscando obter dados rápidos que garantam publicação imediata. É a sublimação do axioma: “Na ciência, o que não se publica não existe” que, usado tortuosamente nestes tempos confusos, despreza atitudes éticas e ideias novas, mas difíceis e mais lentas de executar.

Os efeitos perversos de uma estratégia tão insana são evidentes: o planejamento repetitivo de curto prazo exige resultados rápidos sem checagem, autoria falsa ou um número desproporcional de autores.

Especialmente grave é a terrível pressão sobre os jovens pesquisadores , que recebem uma formação degradada, sem honestidade ou ética de trabalho.

Vendo o futuro emprego condicionado ao desempenho da publicação, casos de falsificação, fraude, plágio e outros comportamentos imorais são e continuarão sendo frequentes. Nessa atmosfera viciada, a ciência fechou os olhos, concordando equivocadamente em mudar seu paradigma: "produzir" substituiu "descobrir".

As consequências dessa deriva: o exemplo da pandemia de covid-19

Um exemplo óbvio dessa deriva científica incongruente vem de publicações científicas relacionadas à covid-19. Até o final de 2019, os artigos científicos sobre coronavírus eram relativamente escassos, apesar das epidemias anteriores conhecidas como SARS (2003) e MERS (2012).

No entanto, o surto repentino da pandemia em 2020 provocou um crescimento, não apenas exponencial, mas estratosférico, de artigos relacionados à covid-19, provavelmente sem precedentes na história da comunicação científica . Algumas fontes confirmaram a constante duplicação do número de publicações, catalogando cerca de 500 novos artigos diários sobre SARS-CoV-2.

Embora desproporcional, tal aumento seria justificado pelo terrível impacto de uma pandemia planetária ainda inacabada. No entanto, um exame mais atento revela facetas que questionam a ética de muitas publicações.

Inicialmente e para garantir sua confiabilidade, os periódicos devem submeter as comunicações recebidas à revisão por pares. Assim, são avaliados criticamente por especialistas da área de forma rigorosa e anônima. Somente seu julgamento favorável garante a aceitação; esta peneira ignora itens de baixo nível. Não sendo perfeito, este sistema editorial foi aceito por unanimidade.

Pelo contrário, na covid-19 é comum encontrar artigos recebidos e aceites rapidamente, mesmo no mesmo dia, impossibilitando assim a sua indispensável revisão prévia. Também encontramos publicações superficiais, cientificamente irrelevantes ou sem controles exequíveis .

Em outras ocasiões, são descritos ensaios terapêuticos preliminares, com amostras insuficientes ou com curto intervalo de tempo, o que não permite tirar conclusões definitivas. Também é comum que linhas de pesquisa muito distantes busquem algum tipo de conexão com o termo “covid-19” para facilitar sua visibilidade, com o consequente interesse dos periódicos mais prestigiados.

Em nosso mundo de interesses complexos e informações superdimensionadas, as consequências negativas vão além da condenação de atitudes acadêmicas e científicas eticamente condenáveis.

Pensemos, por exemplo, que a aplicação fraudulenta de propostas de vacinas ou tratamentos terapêuticos que não foram suficientemente testados e contrastados pode colocar em risco a vida de muitas pessoas, ainda que os órgãos de vigilância exerçam controles muito rigorosos.

É claro que esta análise crítica não é universalmente válida, nem pretende depreciar os estudos mais sérios e conscienciosos. Mas é inegável que sob o pretexto da pandemia e sob a premissa “publique, resta alguma coisa”, um número significativo de artigos científicos contendo dados errôneos ou pouco confiáveis, quando não oportunistas e desnecessários , vieram à tona.



Fonte: The Conversation - Rigor Acadêmico, Talento Jornalístico