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Publicação de estudos científicos

Caros leitores, A Journal Health NPEPS (ISSN 2526-1010) é uma revista científica produzida pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNE...

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Passado e futuro das ciências sociais na América Latina

 

Essa reflexão é pertinente. Por algum tempo, o problema da mudança geracional foi levantado no pensamento social latino-americano. As grandes linhas marcadas nas décadas de 50 e 60 foram um marco na evolução das ciências sociais na região. A institucionalização em planos e programas de estudos facilitou a criação de faculdades de ciências sociais. Em 1957 nasceu a Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso). Sua existência permitiu que a América Latina trabalhasse globalmente. Com sede em Santiago do Chile, foi uma convocação para jovens graduados de toda a região. Nele cresceram as primeiras gerações de cientistas sociais e, mais tarde, teriam papel de destaque no desenvolvimento da sociologia, da ciência política ou das relações internacionais na região. Entre os primeiros licenciados das suas escolas de Sociologia e Ciência Política podemos citar Orlandina de Oliveira, Aníbal Quijano, Humberto Muñoz, José Miguel Insulza, Teresita de Barbieri ou Edelberto Torres Rivas. 

A lista é longa. Entre seus professores estavam Alain Touraine, Gino Germani, Florestán Fernández, Joan Garcés, Víctor Urquidi, Enzo Faletto, René Zabaleta Mercado e Rodolfo Stavenhagen. As promoções formadas entre 1957 e 1973 constituem os chamados René Zabaleta Mercado e Rodolfo Stavenhagen. As promoções formadas entre 1957 e 1973 constituem os chamados René Zabaleta Mercado e Rodolfo Stavenhagen. As promoções formadas entre 1957 e 1973 constituem os chamadosFlacso clássico . Rico em debates, o golpe no Chile em 11 de setembro de 1973 trouxe uma diáspora, uma mudança nos planos e programas de estudos e novos locais.

Por outro lado, a maioria dos graduados emigrou da região para obter o doutorado. França, Itália, Alemanha, Grã-Bretanha, Canadá ou Estados Unidos foram os anfitriões. Suas universidades receberam alunos do Chile, México, Brasil, Equador, Argentina ou América Central. Nomes como Ruy Mauro Marini, Theotonio dos Santos, Bania Bambirra, Suzy Castor, Gerard Pierre Charles, Daniel Camacho, John Saxe-Fernández, Agustín Cueva, José Arico, Ricardo Lagos, Bolívar Echeverría, Octavio Ianni ou Pablo González Casanova doutoram-se em La Sorbonne, Milão, Florença, Harvard, Cambridge, Oxford. Seu retorno os vinculou a tarefas administrativas e de ensino nas nascentes faculdades de ciência política e sociologia.

À luz da revolução cubana, surgem debates. A caracterização das sociedades latino-americanas, o papel das vanguardas, a descrição das estruturas sociais e de poder, a teoria da dependência, a sociologia da exploração, o colonialismo interno ou o caráter do imperialismo. O quadro foi completado com os estudos de evolução da população desenvolvidos a partir de Celade sob a direção de Carmen Miró.

No campo do pensamento econômico, o surgimento da CEPAL, sob a liderança de Raúl Prebisch, em 1949, representou um avanço de proporções sem precedentes. Foram tempos frutíferos. Havia tudo a ser feito. Um debate latino-americano recriou teorias marxistas, apresentou a escola de Frankfurt ou debateu a sociologia abrangente de Max Weber. Adorno, Marcuse, Fromm, Parsons, Raymond Aron eram leituras obrigatórias, junto com os clássicos latino-americanos. As leituras de Mannheim, Parsons, Marx ou Keynes também pareciam essenciais.

Nesse contexto, a CEPAL criou, em 1962, o Ilpes, Instituto Latino-Americano de Planejamento Econômico e Social; seu objetivo, favorecer a formação de quadros para a administração pública. Em sua direção, um exílio republicano espanhol, cuja obra foi seminal em Flacso, José Medina Echavarría. Na Espanha trabalhou com Ortega y Gasset. Tradutora de obras como Ideologia e Utopia , de Karl Mannheim ou Economia e Sociedade , de Max Weber. Seu texto As considerações sociais do desenvolvimento econômico na América Latina abre o debate sobre a sociologia do desenvolvimento. Ilpes transformado em um tanque de pensamentoDentro dele, várias gerações de economistas e cientistas sociais. Celso Furtado, Pedro Vuskovic, Aldo Ferrer, Osvaldo Sunkel, Aníbal Pinto, García D'Acuña, Miguel Wionczek, Max Nolff, Marcos Kaplan, Enrique Oteiza, Helio Jaguaribe ou Ricardo Fajnzyber. A revista Trimestre Economico fundada por Daniel Cosío Villegas e posteriormente editada pela FCE, ecoou os debates. Em suas páginas estão todos os grandes debates do pensamento socioeconômico latino-americano.

Este ano, em meio a uma pandemia, fui convidado e participei de seminários virtuais como estudante. A experiência foi enriquecedora. Assim, no 60º aniversário do CELA, UNAM, México, encontro internacional, coordenado por seu diretor Nayar López Castellanos, houve intervenções de jovens, cujo trabalho e presença se multiplicaram durante o evento. Além disso, tive a sorte de participar das reuniões virtuais dos grupos de trabalho da Clacso. Lá eu gostei de suas apresentações. Rigor conceitual e conhecimento do pensamento latino-americano. Aprendi e fui confortado nas discussões. Temos motivos mais do que suficientes para otimismo. O pensamento crítico latino-americano está em boas mãos e com ótima saúde. Aqueles de nós na casa dos 60 anos e o pessimismo às vezes nos invade, devemos dar um passo em frente.


Por: Marcos Roitman Rosenmann

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